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Foto do escritorBruno Lisboa

Alessandro Travassos fala sobre o EP de estreia da banda RU NA

Fotos: Cleber Aleixo


Com trajetória iniciada no final de 2022, a RU NA é uma banda de rock alternativo que tem como referências a sonoridade de bandas como Biffy Clyro e Death Cab for Cutie.


O grupo é formado por músicos experientes da cena independente mineira como Alessandro Travassos (voz e guitarra), Alexandre Diniz (bateria e vocais), Cleber Aleixo (baixo) e Tiago Sales (guitarra e vocais). Todos com passagens por bandas como o Valv, Kill Moves, Aldan e Vellocet.


Em maio de 2024 o grupo lançou o seu EP de estreia, Heliades, em parceria com a midsummer madness, selo carioca que vem, desde os 90, cumprindo a nobre missão de propagar a música produzida no cenário independente brasileiro. Produzido pela banda junto a Fernando Bones (Aldan, Fabio de Carvalho), o disco foi gravado entre fevereiro e março de 2024 no Estúdio Galvani em Belo Horizonte/MG .

Heliades é um trabalho conceitual que procura discutir os pequenos infortúnios da vida cotidiana tendo como inspiração a tragédia dos filhos do Deus grego Hélios. Cada música tem seu correspondente na mitologia: Merope ("A Writ of Error"), Aegle ("Athens Spartha"), Dioxipe ("Relative Speed and Movement of Projectiles in Action"), Aetherie ("Othelo – All the Love You’ve Left Behind") e Phoebe ("The End is Part of the Ride") e Phaethon ("Aeolian").

Em entrevista Alessandro fala sobre as origens musicais, o mercado da música de ontem e de hoje, a processo de composição e gravação do disco, a parceria com o selo Midsummer Madness, a dinâmica de trabalho junto a Fernando Bones, planos futuros e mais. Confira!

Phono: Aqui no Phono nós gostamos de iniciar nossas conversas pautando sobre as origens musicais de cada artista. Nesse sentido, como se deu o início de sua relação com o universo da música e quando você percebeu que essa aproximação seria duradoura?

Acho que essa história é daquelas que se repetem pelo mundo afora. Quando adolescente ganhei um violão bem ruinzinho e que me trouxe até aqui. Mas a música entrou na minha vida um pouco antes com o Top of the Pops que eu assistia na TV. A partir dessas experiencias tive a chance de fazer parte de uma banda com colegas da Universidade, coisa rápida, que acabou me direcionando pro No Hands que foi a primeira banda mais séria da qual participei e que me trouxe amigos pra vida. Então eu imagino que foi nesse momento que eu percebi que a música trouxe, e ainda traz, no meu caso, não só uma experiência sensorial única, mas também um contexto de vida com pessoas admiráveis com as quais convivo até hoje.

Phono: Para quem acompanha seu trabalho sabe que você integrou o Valv, banda essencial para entender o rock alternativo brasileiro safra 00. De lá pra cá, vimos mudancas drásticas em termos de mercado e de comportamento do público em relação ao consumo da música em si. Para quem viveu esse período de mudança in loco como você observa este fenômeno?

Acho que o acesso à produção e ao consumo musical ficaram mais fáceis, contudo, na minha humilde opinião, a relação entre banda e público ficou mais distante, paradoxalmente. Nesse período dos 00 geralmente o público dessa safra do Altrock aí entrava em contato pra comprar um CD, que muitas vezes era distribuido pela própria banda, haviam mais festivais e eventos voltados pra esse estilo, etc... hoje em dia a relação é mais instantânea porque o público digita o nome ou clica em um link e já tem acesso à música... mas ao mesmo tempo é tanta coisa disponível e tão rápido que muitas vezes alguma coisa passa batido pelas pessoas. E tem as questões de algoritmo também, que é o que determina praticamente tudo o que as pessoas vão ter acesso ou não. Muito do público hoje, principalmente o mais jovem, na minha opinião, acha que "internet" é Instagram, tiktok, X (antigo twitter) e outras redes desse tipo... como nesses espaços há uma questão muito forte de direcionamento pra o que a pessoa vai ver ou não, acaba que é uma maldição e uma benção ao mesmo tempo... por um lado qualquer um pode ter acesso a um conteúdo, por exemplo... mas por outro esse acesso é regrado por diversos fatores alheios à vontade do artista/banda.

Phono: A Ru Na é fruto da soma de forças entre você, Alexandre Diniz, Tiago Sales e o Cleber Aleixo. Todos com longeva experiência na cena alternativa mineira. Como se deu a aproximação de vocês e quais os elementos fizeram com esta junção acontecesse?

Tudo fruto da pandemia… as músicas foram compostas nessa época e depois que a gente conseguiu sair do outro lado desse buraco, eu sentia falta de fazer alguma coisa diferente. Como eu já havia comentado, a música me trouxe e ainda traz relações muito especiais. Foi baseado nesses relacionamentos da vida que o RU NA nasceu. O Alexandre eu já conhecia há anos, tocou no Valv, etc. O Tiago entrou na história quando estávamos bem no início do processo de arranjos pras músicas e achei que precisávamos de mais uma guitarra pra contribuir na identidade da banda. Mais tarde, próximo da gravação, o Felipe Ghirotto, baixista, que tocava com a gente teve que sair e chamamos o Cleber, que trouxe uma energia a mais pra mistura toda. Como todo mundo já tem uma boa vivência do que é ter uma banda autoral, independente e todos os prós e contras que se derivam de uma proposta dessas. Além de serem músicos e pessoas com as quais me identifico bastante, tudo aconteceu de forma bem natural e fluida.




Phono: Heliades é o trabalho de estreia do grupo e aposta numa sonoridade que vai de encontro a belas melodias, guitarras cortantes e letras existencialistas. Como foi o processo de composição e gravação do disco?

Do EP quase todas composições foram feitas durante a pandemia. Criei as letras, melodias e harmonias no violão pra depois levar tudo pra um contexto de banda junto com os caras. Apenas “Othelo – All the Love You’ve Left Behind” foi composta no estúdio, simultaneamente, letra e música, o que, alias, é o meu método preferido de composição. Porém, eu imagino, que todas apontam pro mesmo lugar, que é uma visão de contexto de vida de cada indivíduo.

Phono: Voltando a falar das letras, o EP é um trabalho conceitual que aborda o universo da mitologia grega, tendo a trajetória do Deus grego Hélios como referência. Como seu deu a escolha deste tema e como ele dialoga com a contemporaneidade?

O conceito nos ocorreu por inspiração das coisas vividas na pandemia mesmo… uma tristeza sem fim e que por vezes modificou a ordem natural as coisas, assim como Faéton (Phaethon) fez ao roubar o carro de seu pai Hélios e teve que ser alvejado por Zeus pra que ele não acabasse com a Terra. A nossa ideia foi criar um paralelo entre a mitologia e a nossa vivência, então cada musica recebeu o nome de uma das Helíades (Hélia, Mérope, Febe, Etéria e Dioxipe) que choram a morte do irmão (Phaeton é a ultima musica, o que dá a impressão das irmãs chorando o irmão sepultado).

Phono: Heliades tem produção própria junto ao Fernando Bones, produtor que, de forma gradativa, tem realizado trabalhos de responsa com diversos artistas mineiros. Como foi o trabalho junto a ele e quais contribuições ele trouxe para o resultado final?

O Tiago já conhecia o trabalho dele como produtor e tocou/toca com ele em outros projetos (Aldan, Fabio de Carvalho, entre outros). Cara, o Bones foi um achado pra gente… praticamente ele se integrou à banda, tomou pra si as musicas e cuidou muito bem delas. Nos deixou profundamente à vontade no estúdio, trouxe uma visão mais contemporânea de música pro nosso som e auxiliou profundamente no trabalho. É um produtor extremamente criativo e direto ao ponto… a gente está muito orgulhoso do EP e felizes por termos ele nessa caminhada.

Phono: O EP é uma parceira com o selo Midsummer Madness. O trabalho do mesmo, capitaneado por Rodrigo Lariú, é de suma importância para o cenário indie nacional, pois fez/faz com que diversas bandas da ala alternativa fossem lançadas e chegassem ao público geral. Qual a importância de manter a parceria com o selo, firmada desde os tempos de Valv?

Cara a Midsummer é a nossa casa. Eu não conseguiria imaginar o lançamento de qualquer coisa que não fosse através do Rodrigo Lariú. Fomos apresentados a ele pela nossa querida e saudosa Fernanda Azevedo e a partir daí a Midsummer sempre foi muito gentil e nos apoiou em tudo. E não foi diferente agora… eu acho que essas relações tem que ser mantidas de todas as formas porque a gente sonha o mesmo sonho junto.

Phono: Desde o ano passado o grupo tem feito apresentações esporádicas para testar o repertório ao vivo. Agora, com o lançamento do disco, quais são os planos futuros?

Na verdade a gente tem se concentrado mais em ensaios de composição e arranjo de músicas novas, inclusive algumas que ficaram de fora do EP. Chegamos a fazer um primeiro e único show tocando o EP antes de entrar no estúdio pra gravá-lo no final de 2023 a convite da produtora Chama Independente, iniciativa do Luiz “Z” Ramos e da Ju Semedo. A ideia agora é talvez fazer algo em junho, mas estamos programando um belo show de lançamento pro início de Agosto, que vai ser bem massa! Fora isso é tentar fazer o EP chegar ao maior número de pessoas possível, produção de clipe e sair tocando por aí...



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