Lua de Mel. Desde que assumiu publicamente o atual relacionamento, Lulu Santos parece estar em Lua de Mel com a capital mineira, palco do romance que deu origem também ao último disco, Pra Sempre em 2019. De volta à cidade, após turnê nos Estados Unidos, Lulu Santos fez duas apresentações lotadas no Arena Hall no início do mês. Batizado de Barítono, o show marca, segundo o próprio artista, o reconhecimento do seu próprio registro vocal. As canções são executadas um tom abaixo do original favorecendo o alcance e deixando o canto mais confortável especialmente nas músicas mais altas a exemplo de “Esse Brilho em Seu Olhar” (O Ritmo do Momento, 1983).
Diante do público em Beagá, Lulu não perdeu tempo e, na primeira oportunidade, direcionou seu afeto à cidade que o acolheu. “BH é pra mim um ente querido com quem me relaciono, diálogo e troco”. A homenagem se estendeu para as redes sociais onde registrou sua declaração: “Obrigado, Belzonte. Te amo de volta em dobro!”. Ah, se todo artista soubesse como o mineiro é sensível a um carinho dessa natureza!
Daí em diante, parecia que tudo exalava um pouco de homenagem à Minas Gerais. A começar pela cenografia com sinuosas camadas que respondem muito bem à luz e que, claro, remetem às nossas montanhas (ai de quem duvidar!). Acompanhado por uma banda que dança junto e contribui para a dinâmica da apresentação, Lulu Santos transmite a segurança de um músico com total domínio sobre o palco, a voz, a carreira e a própria intimidade. Comunicativo, fez questão de agradecer - e até reverenciar - a plateia inúmeras vezes. Como o mineiro gosta.
Munido de um repertório de sucessos reconhecíveis ao primeiro acorde, Lulu presenteou seus fãs com 28 músicas que estão entre os melhores hits do pop nacional. Com isso o show se configurou, do palco pra frente, como um enorme karaokê coletivo e instagramável. A organização das pistas compostas por cadeiras numeradas, logo foi ignorada para desespero da produção, que teve que admitir o público de pé. Como esperado, o coro da plateia se deu durante todo o show e com a particularidade de uma obra radiofônica sem precedentes: a plateia cantava cada verso de cor, canção a canção.
Estiveram presentes, nas duas noites, os clássicos mais marcantes dos álbuns lançados nos anos 80 como “Tempos Modernos” (Tempos Modernos, 1982), “Toda Forma de Amor” (com verso devidamente atualizado para: “Eu sou um homem / Você é o que quiser”), “O Último Romântico” (Tudo Azul, 1984), “Um Certo Alguém” ( O Ritmo do Momento, 1983) e “Um Pro Outro” (Lulu, 1986), que Lulu Santos, em mais um momento de afago, disse ter escrito para os fãs.
Dos nos 90 figuraram o tema de Malhação “Assim Caminha a Humanidade” (do disco homônimo de 94), “Sereia” (Eu e Memê, Memê e Eu, 1995) e “Aviso aos Navegantes” (Anti Ciclone Tropical, 1996). Da fase mais recente, Lulu escolheu “Já É” (Bugalu, 2003) e “Caso Sério” (Baby Baby!, 2017), além de “Você Não Serve Pra Mim” (Roberto Carlos), canção gravada em Lulu Canta & Toca Roberto e Erasmo (2013).
Da fundação da banda de rock progressivo Vímana, nos anos 70, até a última participação no The Voice Brasil (2022), há uma longa estrada percorrida pelo cantor, guitarrista, compositor e produtor que tem se revelado, além de tudo, uma jornada de autoconhecimento. Lulu Santos é dono de uma trajetória artística onde acumulou números expressivos (são 10 milhões de discos vendidos, além de mais de 1 bilhão de streams), prêmios e chancelas, mas também tem se revelado um artista que consegue cativar o público por sua autenticidade e carisma no auge dos recém-completados 70 anos de idade.
Os shows do maior hitmaker da música brasileira em Belo Horizonte foram uma sincera celebração dessa bem sucedida jornada. A conexão afetuosa com a cidade, a entrega no palco durante 2h30min e a escolha criteriosa do repertório de Barítono provam sua dedicação à arte e ao público. Uma Lua de Mel que, ao que tudo indica, está longe de acabar.
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